terça-feira, 21 de junho de 2016

CRÔNICA DO DIA: EDUCAÇÃO OLÍMPICA.

No último sábado estive no Colégio de Aplicação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, o CAp-UERJ, que está com suas atividades paralisadas por conta da greve dos funcionários e servidores do estado. 


Ocupado pelos estudantes há pouco mais de um mês, é triste ver o colégio, um dos mais conceituados do Rio, sem o efetivo de estudantes que deveria estar lá. Mas os "ocupantes" tentam dar lições de resistência e cidadania. Digo resistência, pois é preciso muita força de vontade para encarar a precariedade das instalações da unidade, que funciona provisoriamente onde antes funcionou um hospital. Como o provisório acabou virando permanente, por conta da falta de interesse das autoridades, quem estuda ou trabalha no local foi tentando se adaptar ao ambiente que não oferece uma saída alternativa em caso de incêndio, não conta com os requisitos necessários de acessibilidade e também não oferece a merenda escolar gratuita, como deveria ser, já que o colégio é público. Em vez disso, o que vi foi uma montanha de entulho de uma obra que sequer começou e que era a promessa do tão desejado e sonhado bandejão do CAp. 

Apesar de todo o desalento ao observar as instalações físicas da unidade, me impressionou a qualidade da ocupação pelos adolescentes. Confesso que quando soube da ocupação, fiquei reticente e preocupada com os estudantes dentro da escola, sozinhos, sem nenhum tipo de disciplina institucional ou supervisão. Mas eles deram um exemplo de engajamento em defesa da sua escola. A ocupação do CAp promove aulões de biologia, sessões de cinema, debates, atividades para a turma do Capinho, como é chamado o prédio onde estudam os alunos do ensino fundamental primeiro segmento, e também torneios de futebol. Aliás, a olimpíada do CAp é um evento que mobiliza toda a comunidade escolar e acontece no segundo semestre. Enfim, é uma ocupação de resistência mesmo, mas com a alegria, disposição e idealismo próprios dos adolescentes.

Mas neste sábado estava acontecendo também um outro evento: a assembleia dos pais!

Pois é, como estão os responsáveis dos 1.100 alunos da instituição? Divididos. Angustiados. Irritados. Impacientes. Revoltados. Cansados. Sim, percebi na fisionomia dos cerca de 60 presentes na assembleia esse misto de sentimentos. Uns defendem a greve. Outros querem as aulas de volta a qualquer custo. Outros pedem por essencialidades, como aulas para algumas séries consideradas prioritárias segundo suas opiniões parciais. 

Conversei com um pai na saída. Desanimado, apesar de querer muito o retorno das aulas, ele acredita que isso ainda vai demorar. Após segundos de reflexão, fiz o seguinte questionamento: "se esquecermos os pais, os docentes e os alunos, e analisarmos a situação apenas como um cidadão comum, sem vínculo nenhum com a instituição, você voltaria de uma greve com menos garantias do que quando entrou? Lembrando que agora nem os salários estão garantidos." Após um piscar de olhos, a resposta é taxativa: NÃO.

Mas e como ficam todos os envolvidos? Parados, inertes, aguardando que políticos inescrupulosos decidam o futuro das suas vidas, dos seus filhos, dos seus irmãos, dos seus amigos? 

Confesso que saí de lá muito triste, contagiada pelo desalento daqueles pais que se reuniram em mais uma manhã de sábado, para tentar pensar juntos em maneiras de se fazerem notar pelas autoridades. Mas a demora proposital em atender ao mínimo necessário para que a instituição volte a funcionar, vai enfraquecendo o movimento e afastando até os mais convictos. Faz parte da estratégia de quem não tem o menor interesse na educação, como é o caso desse caótico governo do estado do Rio de Janeiro.

Porém, no domingo, quando meu filho e eu cuidávamos do terrário, elaborado por ele e seu grupo no ano passado e que ficou sob sua responsabilidade no final do ano letivo, tive um sopro de esperança ao constatar que o mesmo está cada dia mais vivo e lindo. Imediatamente disse a ele: "esse terrário é o símbolo da resistência da educação pública de qualidade do nosso estado". "Por que, Mãe?", perguntou. "Contrariando as expectativas, ele está resistindo e sabe por quê? (Me olhou com olhos curiosos) Estamos cuidando dele com muito carinho, porque queremos que ele prospere. Assim deveria ser tratada a educação, com carinho, cuidado e dedicação. Vamos fotografar e mandar para os seus amigos. Que tal?"





Enfim, depois de muito pensar, cheguei a conclusão de que só incomodando muito aos donos do poder é que aquelas pessoas, daquela escola de excelência, onde todos os anos milhares de pessoas sonham e lutam para entrar, vai conseguir alguma coisa. Só se unirem esforços e JUNTOS se fizerem presentes nas audiências públicas, nas visitas à ALERJ, nas assembleias... Somente JUNTOS conseguirão ter êxito em alguma coisa. Divididos serão apenas motivo de chacota e mais descaso por parte das autoridades. 

E então? O que decidem? Deixar que um governo, que administra mal as contas públicas e levou o estado a esta crise absurda em todos os níveis e setores sele o seu destino? Vale a pena desistir depois de tantos sacrifícios e ceder a vitória a esses que estão no poder de passagem? Pensem nisso. Refresquem suas ideias e comecem a colocar a "boca no trombone". Usem todos os canais de comunicação que puderem. Não desistam! Nosso estado precisa de mais escolas como o CAp. E não o fim dela. 

Não permitam que este governo deixe como legado essa educação olímpica do descaso. Deixem vocês, estudantes, professores, funcionários e pais o legado de um dos mais importantes valores olímpicos: SUPERAÇÃO! 

Boa sorte!

sexta-feira, 3 de junho de 2016

PAPO DE MÃE: "PORCO MALDITO!"


Hoje, pela manhã, a caminho do trabalho, ao lado do meu jovem filho, que está lendo "A revolução dos bichos", fui surpreendida pela seguinte afirmação:


- Mãe, proclamaram a República! E esse porco maldito, o Napoleão, não sai do poder!


Ainda pensativo e, ao mesmo tempo, surpreso, continuou:


- O cavalo morreu... Nem conseguiu se aposentar!

- Que pena, Filho! Logo o cavalo, aquele trabalhador incansável!...


Após deixá-lo em seu destino, fiquei pensando... Que história atual essa do George Orwell!!!

(George Orwell lançou "Animal Farm", "A revolução dos bichos" em português, em 1945)

quarta-feira, 1 de junho de 2016

CARTA ABERTA A QUEM PODE RESOLVER A SITUAÇÃO DA EDUCAÇÃO NO RIO DE JANEIRO.

Não há como ficar indiferente às notícias sobre a ocupação das escolas em todo o estado do Rio de Janeiro. A ocupação divide opiniões e acirra ânimos em todas as frentes, alunos, pais, autoridades... 


Apesar de ser uma decisão controvertida, a ocupação trouxe a público os graves problemas vividos pelas escolas do Estado. Falta de segurança, de limpeza, de material escolar, de professores... Em algumas unidades, os alunos encontraram material escolar novo e totalmente abandonado, expondo a todos o mau uso, a falta de organização, a falta de controle e a má administração do dinheiro público por parte dos gestores desses recursos. 


A greve da educação no Rio de Janeiro já dura três meses. E o que fizeram as partes envolvidas para tentar resolver a questão? Não muito... Por quê? Será falta de diálogo? Falta de propostas que tenham o objetivo de resolver de fato a questão? Falta de boa vontade? Talvez... Mas de quem? 

De um lado temos a Secretaria Estadual de Educação (SEEDUC), a Secretaria Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação (SECTI), a Assembleia Legislativa do Estado (ALERJ) e o próprio chefe interino do executivo, o governador em exercício, Francisco Dornelles. Todas essas equipes juntas não conseguem resolver, pelo menos, um problema básico e primordial, o pagamento em dia dos seus servidores e terceirizados. Sem estes últimos, responsáveis pela limpeza, conservação e segurança, muitas unidades ficam sem condições mínimas de funcionamento. Minha pergunta a todos vocês, caríssimos secretários, governador e afins, como vocês acham que essas pessoas, esses trabalhadores sobreviverão sem os "mínimos" salários há tantos meses, como na Universidade do Estado do Rio de Janeiro, a UERJ, uma das maiores e melhores universidades públicas do país? Nesta instituição, em particular, causa tristeza ver o abandono em que se encontra um dos seus campos principais, o do Maracanã, onde o mato no estacionamento já chega a quase um metro. Para mim, causa espanto ver o governador em exercício "brincar" durante as entrevistas que concede, "pedindo um dinheirinho" para os repórteres. Diante da gravidade da situação, esse tipo de "chiste" é totalmente inapropriado.

Brincadeiras à parte, não vi ainda nenhuma disposição para buscar a solução para a questão da greve e a consequente e tão esperada volta às aulas. Ao contrário. O que vi é a convocação dessas autoridades e da Secretaria de Segurança do Estado com o objetivo de traçar um plano para a desocupação das escolas. Eu pergunto a vocês, após a desocupação, o que virá? Quais serão os próximos passos? Vocês irão assumir, de fato e de direito, com responsabilidade, critério e comprometimento a administração dessas escolas, incluindo pagamento dos funcionários, servidores e terceirizados, garantindo o funcionamento das escolas de forma plena e saudável? Sim, porque depois de todo esse tempo, é isso o que espero.

É inadmissível ver tantas crianças, adolescentes e jovens sem aulas por tanto tempo! 

É inadmissível ver o descaso com que são tratados os profissionais dessas instituições!

É inadmissível ver o desmazelo e precariedade dos ambientes escolares!

Há dois meses para o início das Olimpíadas 2016, fala-se muito em legado, em benfeitorias para a cidade do Rio de Janeiro, capital do Estado do Rio. Eu pergunto, que legado pode advir para esta cidade olímpica, diante do quadro desolador da educação em todo o Estado do Rio de Janeiro?

Por isso, caros secretários, caro governador em exercício, lideranças do movimento, deputados, enfim, todos que podem, de alguma forma, responder aos anseios dos estudantes, dos professores, dos pais, dos técnicos, dos profissionais terceirizados, entre outros, POR FAVOR, não percam mais tempo! Reúnam-se! Conversem! Decidam! Entrem em um acordo que priorize a prestação de um serviço de excelência, como a educação, e valorizem os profissionais responsáveis pela realização de um trabalho de suma importância para o estado e para todo o país. Sejam vocês, autoridades gestoras dos recursos públicos, o legado que este Estado está precisando! Legado de boa administração, de transparência, de comprometimento, de cuidado, de responsabilidade! O povo do Rio de Janeiro agradece!