segunda-feira, 19 de maio de 2014

SANDRA RONCA: Dedicação e amor às crianças!

Conheci a escritora e ilustradora Sandra Ronca em um momento muito especial da minha vida: o lançamento do meu primeiro livro infantil, Sol, o girassol insatisfeito. Cheguei até ela através de uma amiga em comum, com quem falei sobre o meu projeto. A partir daí, comecei a conhecer um pouco do seu trabalho e tive a certeza de que havia encontrado o que estava procurando. Como disse em uma postagem anterior aqui mesmo no blog, o trabalho da Sandra tem "a graça, a leveza, a cor e a inocência que eu procurava". 
Foram muitas mensagens trocadas virtualmente, muitas conversas, bate-papos e, ao final do projeto, a admiração pela pessoa e pela profissional cresceu e se solidificou. E é com grande alegria que o Blog  da Fátima Augusta publica hoje uma entrevista exclusiva e especial com a ilustradora e escritora Sandra Ronca.

Filha de artistas plásticos italianos e formada em Comunicação Social, habilitação em Publicidade e Propaganda, com pós-graduação em Design e Ilustração, Sandra Ronca lançou seu primeiro livro como ilustradora em 2007. As férias das sete meninas, de Lourdes Freitas foi o primeiro de uma lista de mais de vinte livros, em apenas seis anos de carreira, que incluem também quatro livros como autora. Nada mal para a adolescente que tinha dúvidas sobre qual carreira escolher. "Me tornar ilustradora foi uma descoberta! Sempre amei desenhar e criava personagens sem me dar conta. Gostava de pintar, conhecer, experimentar, mas nunca pensei que trabalharia com isso", lembra Sandra, que não nega a ajuda e influência da profissão dos pais na escolha desse caminho. "Respirar arte, acompanhar, conhecer museus, mostras, livros, me construiu internamente", destaca.
Mas o maior incentivador da sua carreira foi um dos seus filhos, Hugo. "É incrível o quanto ele era vibrante e super incentivador desse meu trabalho que vinha surgindo. Um contraste muito grande com qualquer outra pessoa. Era o fã número um das minhas ilustrações", relembra com carinho e saudade do filho que partiu ainda muito jovem. 


Sandra Ronca, fotografada por Hugo, seu filho e maior incentivador.

Trabalho especial

Conseguir uma resposta da Sandra sobre algum trabalho que tenha sido mais especial para ela é tarefa árdua. "Cada livro tem sua história, seu caso... Até mesmo a razão desse carinho", justifica, enumerando vários dos seus trabalhos, como Coitada da Raposa!, Dia de Vacina, O sumiço do O, Com que bicho você se parece, O menino que foi ao Vento Norte, Casa de Vó é sempre domingo, Sol, o girassol insatisfeito, Histórias da Malu, A Princesa e a Ervilha, Por que? Por que? Por que? e Meu amigo partiu. "Mas talvez, de tudo tudo, se você me beliscar e me fizer falar rapidamente, talvez eu grite: O sumiço do O! Creio que ele ficou completo em vários fatores até o resultado final do livro, como objeto cuidado e projetado. É um livro com múltiplas possibilidades e tem rendido muitas surpresas fantásticas", elege a autora finalmente, acrescentando logo em seguida o livro em braile, A horta da Ethel, de Celso Sisto. "Uma oportunidade fantástica! Facilitar o acesso à leitura a mais pessoas... Ou seja, a cada livro o seu carinho", enfatiza docemente.


Um dos livros preferidos da autora.

O primeiro livro em braille da autora.

































Sempre criança

Durante nosso bate-papo, disse à Sandra que o seu trabalho me transmitia uma leveza, sensibilidade e inocência próprias das crianças, o que, na minha opinião, a aproximava do seu público alvo, o infantil. Sandra sorriu e lembrou que, certa vez, uma criança disse a ela que gostava dos seus desenhos justamente porque pareciam ter sido feitos por uma criança. "Isso me surpreendeu, mas, ao mesmo tempo, sei que trago minha criança comigo e é essa criança que me dá forças neste mundo adulto, me ajuda na comunicação com o leitor", lembra carinhosamente a autora, acrescentando que sempre amou e conviveu muito com crianças e animais. "O que observo no meu traço é a agilidade e o movimento. Quando o solto à vontade, ele é assim, rápido, ágil e leve", complementa.

Mas apesar de toda a leveza e sensibilidade do seu trabalho, o seu processo de criação envolve muita dedicação. A ilustradora sempre faz muitas pesquisas, várias leituras do texto, muitas anotações até chegar a produzir os primeiros esboços. "Ocorre também que, no momento em que estou fazendo qualquer coisa, algo pode brotar na mente, uma imagem, um detalhe, uma solução", explica. Foi o que aconteceu em uma de suas viagens à Itália para fazer um curso de especialização em sua área. Durante um passeio pela cidade, Sandra visitou vários campos de girassóis e imediatamente sentiu a inspiração brotar para o novo trabalho contratado: as ilustrações do livro Sol, o girassol insatisfeito. 


Sandra em um campo italiano de girassóis: inspiração.


Cores e sombras

Em meio ao mundo colorido, sensível e criativo desse tipo de trabalho, existe também o mundo da luta e do esforço diário para a conquista e solidificação do próprio espaço. São momentos de muita ansiedade, pois quando se apresenta um trabalho aos editores, não significa que ele será publicado imediatamente. A resposta pode demorar e até mesmo nem chegar. "O meu último livro como escritora, O sumiço do O, passou por oito editoras antes de ser publicado e o resultado ficou fantástico. Descobri que é um livro rico, que não se esgota e me traz muita alegria", lembra Sandra com alegria, acrescentando que ser "um ilustrador, não é só desenhar ou pintar. Há que pensar o projeto livro, negociar contratos, cumprir prazos, divulgar seu trabalho, falar um bom português, se fazer respeitado... São muitas coisas envolvidas numa mesma profissão", orienta. Para os jovens ilustradores, Sandra destaca a humildade e a vontade de aprender como características importantes. "Estudar, ouvir, aprender, observar. Estar presente em debates, eventos, listas de discussões. Valorizar o próprio trabalho e ter humildade em saber que há sempre o que aprender", ensina.

PERFIL

> Signo: Sagitário.
> Mês preferido: Dezembro.
> Uma data especial: 18 de abril.
> Uma paixão: Crianças.
> Um amor: Família.
> Saudade: Hugo, meu filho.
> Um filme: A corrente do Bem.
> Um pintor: Monet.
> Lazer: Natureza.
> Hobby: Leitura, pintura.
> Uma música: Oração de São Francisco.
> Livro de cabeceira: Diário da montanha, de Roseana Murray.
> Um lugar para se viver: Itacoatiara.
> Melhor ano da sua vida: 1980.
> Uma felicidade: Trabalhar com o que se gosta, viver o que se acredita.
> Casamento: Partilha.
> Um sonho: Colaborar na transformação do mundo com meu trabalho.
> Um desejo: Que o homem compreenda e respeite sua forte conexão com o todo.
> Sandra Ronca pela Sandra Ronca: Imperfeita, batalhadora, amiga, gentil, sonhadora, confiante, solidária, teimosa... De tanto querer abraçar tudo, às vezes, me enrolo... Uma palavra? Ponte.


Sandra Ronca: "Imperfeita, batalhadora, amiga, gentil, sonhadora..."

sábado, 10 de maio de 2014

CRÔNICA DO DIA: LEMBRANÇAS DA MINHA MÃE!

Minha mãe era uma peça mesmo! Uma peça rara de dignidade, responsabilidade, seriedade e comprometimento. Aluna nota dez, não perdia uma aula, nem deixava de fazer nenhuma tarefa escolar. Diziam que ela era um gênio. É verdade. Era um gênio mesmo. E muito comportada. Sempre. Mas um dia... Um dia... Lá pelos anos 40, quando estudava para ser professora, ela resolveu seguir suas colegas de classe em uma grande aventura. Sim, uma grande aventura. Ao menos para minha mãe, a Anninha, como era chamada carinhosamente pelas amigas. Elas iriam “gazetear” a aula naquele dia. Esse era um grande acontecimento na vida da minha sempre comportada mãezinha. E assim elas foram para a sua grande aventura, que incluía passear pelas ruas do Centro, tomar sorvete e conversar. Minha mãe nem conseguiu se divertir muito, pois tamanha era sua preocupação em ser vista por algum conhecido fazendo algo tão “ilícito”!

Minha mãe jamais se esqueceu desse episódio, que também nunca mais se repetiu. Na velhice, quando a memória, tão brilhantemente utilizada durante toda a sua vida, começou a lhe pregar peças, o episódio veio à tona novamente. Estávamos as duas fazendo um lanche, à tarde, em casa, quando ela resolveu me contar essa grande aventura.

“Tive tanto medo!” - disse ela ao finalizar a narrativa.
- Do que mais sentiu medo, mãe? – perguntei.
- De que alguém me visse. A Anna gazeteando aula! Imagina! – comentou.

Sorri com os lábios e com o coração para a minha querida e comportada mãezinha. E foi aí que a surpresa chegou. Ela começou a contar novamente o caso, com as mesmas palavras e a mesma entonação de minutos atrás. Minha surpresa não foi percebida por ela, que continuou a narrativa. Por fim, disse: - “Tive tanto medo!” – concluiu. Mesmo surpresa com o inusitado da situação, pensei rapidamente e decidi, em uma fração de segundos, seguir o mesmo roteiro da conversa anterior travada minutos antes e falei: 

Do que mais sentiu medo, mãe?

Sua resposta foi a mesma.
Segundos depois ela começou a contar a história novamente. Pela terceira vez. Em apenas vinte minutos. Não preciso dizer que as palavras e expressões foram exatamente idênticas às utilizadas nas narrativas anteriores. Parecia que havíamos apertado alguma tecla, que nos levava sempre ao mesmo ponto da história.
Ao final de mais uma narrativa da mesma cena, decidi mudar o roteiro e ir para a próxima cena. Levantei da mesa, beijei a sua testa carinhosamente e disse:

- Vamos sentar no sofá agora para descansar um pouquinho do lanche?

Ela concordou e levantando-se devagar, com a dificuldade própria da idade, acompanhou-me de mãos dadas até o sofá, onde iríamos conversar mais um pouquinho sobre suas grandes aventuras de outrora. 



Minha Mãe querida, linda e serena, à mesa dos lanches e bate-papos.


UM FELIZ DIA PARA TODAS AS MÃES !