sábado, 4 de janeiro de 2014

CRÔNICA DO DIA: SAUDADE.

Sempre falo sobre a saudade que sinto da minha mãe.
Pessoa generosa, dedicada, carinhosa e... amiga. Muito amiga!




"Saudade, palavra triste", disse certa vez um amigo, ao me ver comentando sobre a saudade que sinto da minha mãe. Esse comentário ficou martelando na minha cabeça. 

Não acho que a saudade seja algo triste. Não. A saudade que sinto da minha mãe é... Como direi?... Saudade! Saudade de conversar com ela, da sua companhia, da sua torcida pela minha felicidade, enfim, saudade de tudo de bom que vivi e compartilhei com ela. Foram tantos momentos bons! Os momentos mais difíceis nem chegaram a deixar marcas profundas, porque ela estava ao meu lado, firme, presente. As lembranças que me vêm à cabeça são sempre alegres, prazerosas, boas. Decididamente não acho a saudade triste. Será que a minha memória está me pregando uma peça, me fazendo esconder ou esquecer as tristezas? Será?

Decidi pensar mais um pouco a respeito sobre outras saudades que tenho. Tenho saudade dos meus 15, 18, 20, 27, 30 anos. Saudades dos meus amigos de então, das festas, dos sonhos, dos ideais, das paixões avassaladoras e efêmeras. Enfim, saudade de tantas coisas!... Nem as paixões não correspondidas causaram tristeza. Me lembro até de situações engraçadas da minha juventude, envolvendo a Fátima conquistadora e apaixonada. É, continuo não achando a saudade um sentimento triste.

Mas insisto com a memória. "Vamos, busque mais fundo", digo a mim mesma. Até que encontrei algo que, se não me causa uma profunda tristeza, ao menos me faz sentir uma saudade nostálgica, de quem sabe que não vai poder voltar no tempo. Sinto essa saudade nostálgica da Fátima mais jovem, idealista, sonhadora, determinada a fazer a diferença e mudar o mundo, segundo o que acreditava ser o melhor para todos. Um mundo justo, colorido e nada desigual. Sim, esse era um sonho da jovem Fátima. Era tanta energia, tanta força, tanta vontade... Sinto saudade dessa personagem que fui um dia... Mas será que ela se foi mesmo? Será que sentir saudade dessa época me causa tristeza? 

Examino minha consciência... Faço uma varredura meteórica na minha trajetória. Aquela Fátima, tal qual era aos 20 anos, não existe mais. "A que existe hoje tem algo daquela Fátima? Esta Fátima me agrada?", pergunto a mim mesma. Passado e presente se misturam em uma corrida interior. 

Por fim, encaro o espelho, olho com atenção a Fátima de hoje. Gosto do que vejo. Não tenho mais aqueles ideais exuberantes, utópicos e grandiosos. É verdade. Mas o desejo de melhorar ao menos o pedaço de mundo em que vivo ainda está aqui. Ainda acredito nas pessoas e na transformação que pequenas atitudes podem causar no mundinho ao nosso redor. É só querer, tentar, insistir. Fácil? Nunca. Mas quem disse que seria? A chave da mudança é a perseverança e a determinação. E é isso que me aproxima da velha... Ops! Da jovem Fátima. Lá no fundo, acho que continuo idealista, sonhadora, só que em uma escala menor, talvez um pouco menos intensa. Determinada? Sempre! Menos eufórica, talvez. Mas ainda assim a Fátima.

Por todos os sentimentos, reflexões e lembranças desencadeadas é que agradeço ao meu amigo, aquele do início desta crônica, por tornar possível o encontro do passado e do futuro, com todas as lembranças, alegres ou tristes, que um encontro como esse pode trazer a tona. Termino o texto com a cabeça povoada com as belas imagens da minha infância, juventude e das pessoas que já partiram. E um breve sorriso passeia por meus lábios. Saudade... Recheada de amor, carinho, alegria... Saudade!